As pessoas acabam por me perguntar porque é que não tiro fotos de mim ou porque escrevo. Eu respondia sempre “porque sim” visto que a resposta parecia-me óbvia. Eu não quero recordar-me fisicamente. Eu sei como o meu aspeto exterior é, como fui. Olhos verdes, cabelo louro escuro, pele branca, unhas roídas. Aquilo que quero recordar é o que me envolve. A mente é algo muito engraçada no ser humano. É a mente que nos comanda, que nos faz tomar decisões, que nos ajuda a recordar o passado. Há certas memórias que permanecem no teu lobo temporal como se fossem vividas há um dia atrás quando já se passaram anos. Há outras memórias que, sem impacto nenhum, se foram desvanecendo do teu ser. A cada dia, as velhas recordações vão ser substituídas por novas, os novos conhecimentos vão ficando entranhados e os velhos serão levados pelo vento. É essa a rotina – sem ela, o cérebro acumulava tanta informação que acaba por nos deixar malucos. E é por isso que decido fotografar algo que não seja eu. O meu físico não irá alterar muito, mesmo que pinte o cabelo ou me bronzeie. No entanto, o meu íntimo, as emoções e sentimentos que senti naquele momento, a forma como os objetos de observação se encontram posicionados de forma harmoniosa na hora que tiro a fotografia, as minhas ideias e pensamentos, o pôr-do-sol, aquela flor que pediu para ser capturada pela sua beleza, tudo isto acaba por mudar. A vida tornou-se efémera a partir do momento em que és criado e não há maneira de a guardar toda a não ser através de meios visuais e escritos. A necessidade de capturar o mutável é enorme já que a mudança é aquilo que te faz evoluir.

Capturar o Mutável

by on dezembro 14, 2016
As pessoas acabam por me perguntar porque é que não tiro fotos de mim ou porque escrevo. Eu respondia sempre “porque sim” visto que a respo...
Será coincidência ou destino? Não achas anormal tudo o que acontece entre nós? Era suposto seguirmos caminhos afastados e, no entanto, aqui estamos nós. O tempo afasta-nos e junta-nos. De novo. E de novo. E de novo. E o sentimento volta a cada encontro entre as nossas almas. E sempre que vais dói. Só algo forte pode doer assim tanto. Oh! Quão bom é poder tocar no teu ser. Saber-te vibra-me o pensamento, o espírito! Intrigas-me, confundes-me. Deixa-me tornar-te eterno com a poesia escrita da minha mente. Sê a inspiração que me falta. Dita-me novos sentimentos, novos adjetivos, novas experiências. Ou dita os inventados. Não importa, apenas salienta o que sentes. Não te voltes afastar, aproxima-te ainda mais e eu mostro-te como ficar.  Quero perder-me em ti como se me perdesse por entre as minhas fantasias. De novo. E de novo. E de novo. Nada melhor do que me perder em algo gratificante, não achas? Somos o preto e o branco em pessoa, somos arte não acabada. Vamos terminar a tela incompleta um do outro. Pronuncia os nossos nomes. De novo. E de novo. E de novo. Deixa-os ecoar na tua mente. Não soam bem juntos? Cria o nosso futuro, fá-lo romper a utopia que criei para, em seu lugar, criar a nossa realidade. Irrita-me da maneira que só tu consegues irritar para te poder matar com a doce tortura que percorre os meus pensamentos. As sinapses são tão rápidas quando estou contigo que chego a perder o foco em tudo, menos em ti. Eu procurava-te mas, iludida da vida, via-te mas não te via. E agora encontrei-te, finalmente.

De novo IV

by on junho 15, 2016
Será coincidência ou destino? Não achas anormal tudo o que acontece entre nós? Era suposto seguirmos caminhos afastados e, no entanto, aqui...
É fácil deixar alguém para trás - o que magoa é a esperança que espreita sempre. A esperança de pensar que não está totalmente acabado, de que ainda vale a pena, de que as coisas vão voltar ao mesmo. Mas as coisas nunca voltam ao mesmo. A desilusão acontece uma e outra vez e acabas por criar anti-corpos, imunidade perante a pessoa que te magoou. E de repente parece que consegues respirar novamente. É como se durante aquele tempo estivesses debaixo de água a suster a respiração e depois voltas à tona onde tudo é claro e percetível. Como é óbvio, ainda demoras um tempo a recuperar de tanto tempo que ficaste sem ar mas depois relaxas e sorris porque sobreviveste à partida de alguém. Levaram um parte de ti mas continuas a nadar e continuas a respirar e continuas a lutar contra a corrente, por muito cansada que estejas. Há cansaços que valem a pena e este é um deles porque por cada vez que te partem o coração é um coração partido mais perto daquela pessoa que te vai ajudar a reconstruir-te. E "aquela pessoa" pode muito bem seres tu mesma, ser "aquela pessoa" nova que se transformou e renasceu. E aí reparas que afinal a pessoa que te magoou, que pensaste que não conseguias viver sem, está bem longe e está tudo bem. Porque se calhar as pessoas não são feitas para ficarem juntas. Nem mesmo as casadas. O sempre não existe e o pouco tempo que vivemos é para termos experiências e apenas viver. Há pessoas que ficam pouco tempo e marcam para o resto da tua vida e há pessoas que ficam anos contigo e simplesmente não te tocam com tanta intensidade. Talvez as pessoas sejam mesmo feitas para serem temporárias - umas ficam mais tempo que outras.

Pessoas e pessoas

by on maio 07, 2016
É fácil deixar alguém para trás - o que magoa é a esperança que espreita sempre. A esperança de pensar que não está totalmente acabado, de ...
O incerto faz-me cair nas minhas próprias profundezas do vazio. Algo falta. Alguma coisa de muito importante desapareceu e pareço não me lembrar do quê. Eu perdi-me, talvez seja isso. A minha essência mistificou-se. Será que alguma vez a tive? Será que alguma vez soube quem era para poder agora dizer que me perdi? As palavras saem por entre os meus lábios mas não descrevem o que sinto. Como descrever o indescritível? Como definir algo supostamente abstrato? O que é suposto se fazer quando não se sabe como fazê-lo? O que é suposto dizer quando não se sabe como dizê-lo? O que acontece quando se diz as palavras certas no tempo e pessoa errada? O que acontece quando se diz as palavras erradas no tempo e pessoa certa? Será que tem repercussões? O que está acontecer? O tempo parece ter estagnado mas, simultaneamente, passa apressado como se tivesse pressa para fazer algo. Até o tempo sabe o que fazer e eu não. Ilusões e desilusões, sentimentos pensados e sentidos, incertezas e carências, ausências e silêncios. O desconhecido assombra-me, deixando-me desnorteada. Porquê?

Incertezas

by on abril 11, 2016
O incerto faz-me cair nas minhas próprias profundezas do vazio. Algo falta. Alguma coisa de muito importante desapareceu e pareço não me le...