Em Dezembro fiz uma maratona de Harry Potter. Sim, até ao final de 2016 ainda não tinha visto os filmes.
Adiante. Num dos filmes, uma frase que o Dumbledore disse ficou-me na cabeça desde então. "Claro que é dentro da tua cabeça, Harry, mas porque raio é que deveria significar que não é real?"
Eu sou uma pessoa ansiosa, isto significa que passam sempre muitos cenários na minha mente e, por vezes, sinto mais do que devia. Sempre penso que é tudo na minha cabeça porque sempre foi isso que me disseram por ser como sou. No entanto, esta citação de Harry Potter fez-me perceber que mesmo que seja só na minha cabeça, isso não significa que não seja real. Os meus sentimentos são válidos, independentemente de estar a exagerar ou não. Tudo aquilo que me vai na alma tem de ser reconhecido com o devido valor para poder libertar depois de se sentir.
Eu tinha muito a mania de esconder e ignorar os meus pensamentos e sentimentos porque não queria que se metessem na minha vida. O resultado: acabava por acumular tudo e explodia. Tinha ataques de ansiedade, chorava compulsivamente, magoava-me. Ao longo dos anos percebi que não podia continuar com a mesma estratégia de fingir que estava tudo bem - claramente não estava a ser bom para a minha sanidade. Precisava de procurar uma maneira melhor de acalmar a minha tormenta. Aceitei como era: ansiosa e demasiado pensadora. É necessário legitimar quem somos para poder encontrar paz interior. A criação de cenários, o pensar demasiado no que acontecia, o sentir desmedido - tudo isto devia ser aceite por mim para poder aclarar as minhas ideias. Não podia fazer nada para controlar além de respirar fundo e deixar fluir tudo o que me viesse à mente. Todas essas histórias que me encontravam eram escritas para futuros princípios e inspirações de narrativas. Aproveitar as minhas ilusões, idealizações e receios fez nascer a minha vontade de conceber vidas próprias a essas mesmas fantasias.
A mente ora mente ora sente e, ainda assim, está tudo bem. 


A Geração Y, também chamada geração do milênio ou geração da internet, millennials.A Geração Z, comumente abreviado para Gen Z, também conhecida como iGeneration, Plurais ou Centennials. As geração dos narcistas, dos intitulados de algo. Tudo isto são palavras da Wikipédia. Tudo isto são definições dadas pelos demais, como se fossem nomeados por alguém para dar rótulos a pessoas que nem conhecem. Quem sou eu? Tecnicamente estou algures no meio dessas gerações e, na realidade, não sou nada do que elas caracterizam. Eu defendo a minha geração, as pessoas que nasceram antes e depois de mim porque todas nós temos o direito de auto determinar o nosso futuro sem etiquetas mal feitas. 
Estou aqui para dizer que não ligo a quaisquer legendas que tenham sobre os mais novos. A partir do momento que destroem o planeta que as gerações futuras irão herdar - não têm o direito de opinar sobre nós. A partir do momento em que separam as pessoas por serem de raça, religião, oritenção sexual, género - não têm direito de opinar sobre nós. A partir do momento em que usam o estado para roubar e deixam as próximas gerações sem fundos de segurança porque há cortes na educação, na saúde, aumentam preços de bens essenciais - não têm o direito de opinar. A partir do momento em que julgam os jovens por irem em frente com os seus talentos e ideias de modo a esmagar os seus sonhos - não têm direito a opinar sobre nós. A partir do momento que criaram um sistema de educação estandardizado onde criam máquinas de memória, repetição e oração - não têm o direito de opinar. A partir do momento em que continuam com a ideia de que é melhor seguir uma carreira que dá dinheiro invés de seguir uma carreira que nos permita seguir a nossa paixão - não têm o direito de opinar. A partir do momento em que criticam a geração que muitos de vocês estão a criar - não têm o direito de opinar. 
Estou saturada de me dizerem que a minha geração é um lixo, não tem futuro no mundo do trabalho porque não há dinheiro ou lugar para nós mas, ao mesmo tempo, dizem-nos que não queremos trabalhar; que somos irresponsáveis mas quem elege partidos antiquados  e ideias absolutamente extremistas são a maioria dos adultos; devemos obedecer aos adultos porque nós não temos opinião e não sabemos o que é a vida; que não sabemos divertir porque usamos o sexo como libertação e usamos a nossas palavras como poder de liberdade invés de armas; somos todos menores mas acaba o secundário e já somos grandes o suficiente para decidir o nosso futuro inteiro quando há meses atrás ainda tínhamos de levantar a mão para ir à casa de banho; que a tecnologia está a fazer um estrago total e, no entanto, muitos jovens estão a fazer dinheiro e são um sucesso através dela; que somos rudes por exigirmos o mesmo respeito e tratamento perante os outros.
Talvez alguns de nós sejam preguiçosos, mal-educados, egoístas e com uma alma má - mas isso existe em todas as gerações, porquê generalizar as outras?
Não sou um só mais um número na segurança social, não sou mais uma média que entra em estatísticas sobre escolas, não sou mais um alvo do mundo do marketing, não sou mais uma pessoa que serve para encher os bolsos dos poderosos, não sou mais uma pessoa a juntar à lista do desemprego porque nesta geração vejo mais do que nunca a luta pelos sonhos e objetivos que têm, vejo universitários a aceitar trabalhos que não têm nada a ver com o seu curso porque não se acham superiores por ter um canudo, vejo jovens adultos interessados pela humanidade e pelo futuro das próximas gerações, vejo seres humanos que estão a inspirar e a criar uma onda de solidariedade enorme através de um vídeo que viram na internet.
Vá lá, senhores adultos: será que o real motivo de criticarem a minha geração não é por sentirem inveja? 

Pergunto-me quantas pessoas viram o título e acharam que eu ia falar sobre quão o meu coração está partido por causa do amor. Engraçado como quando lemos "coração partido", a nossa mente viaja logo para aquela pessoa que nos magoou. É normal. A mente tende a lembrar-se mais facilmente de momentos tristes do que os momentos em que nos sentimos felizes. 
No entanto, não é desse coração partido que quero escrever hoje.
Imaginem a vossa mão a tapar o sol - se estiver fechada bloqueia os raios de luz atingir os vossos olhos. Imaginem, agora, os vossos dedos a separarem-se devagarinho. A luz começa a atingir o vosso rosto, iluminando. O sol, a luz, é isto que nos permite ver tudo. Quando o coração está inteiro, não permite que a luz atravesse para assegurar luminosidade dentro de nós mas quando se parte, entra um brilho, uma claridade que pode ser boa.
O que estou a tentar dizer é que não é totalmente mau quando o nosso coração se parte. Com isto não estou a dizer que devemos deixar os outros nos magoar - não. Estou a dizer que nós podemos deixar que entre um pouco mais de luz ao se ser vulnerável. Tornou-se tão raro ver alguém vulnerável, bondoso e capaz de mostrar o que pensa e sente realmente, capaz de sentir realmente porque é visto como ser-se fraco. Eu acho que é uma maneira muito corajosa de se mostrar que está vivo.
Está-se a perder noção dos sentimentos, da humanidade que devia existir dentro de nós. O mundo tornou-se tão rápido que acaba por ser difícil aceitar e compreender o que verdadeiramente se passa ao nosso redor. Os dias vão passando sem se viver totalmente. Eu sou culpada disto, às vezes. Acabo por perder mais tempo a preocupar-me com universidade e o meu futuro indeciso do que respirar e apreciar o que tenho. Fico a esconder-me do mundo porque tenho medo que possa ser demasiado honesta e, consequentemente, magoada. Ao mesmo tempo, apago esse pensamento e liberto a minha mente e o meu coração porque é a melhor maneira de se ligar a outras pessoas.
Admito que sou demasiado sensível, às vezes. Eu sinto demasiado todas as palavras que me são ditas  e ações que são feitas sendo que pode ser uma benção como pode ser uma maldição. Vivo tudo muito intensamente - coisas boas ou más. Acaba por ser esgotante porque o meu humor varia durante o dia, ou passo semanas a sentir-me negativa e outras semanas a sentir-me positiva. Começo a chorar por ver a desumanidade que existe no ser humano e choro por ver o quão bom o ser humano pode ser.
Sempre o tentei negar vulnerabilidade e fazê-la desaparecer mas só piorei a situação já que guardava tudo e transformava-se num conflito interno que não tinha forças para domar. Sempre tentei não falar do que me chateava, do que me magoada, do que me fazia feliz, do que me inspirava porque era uma forma de as pessoas me atacarem. Alguém saber usar a tua vulnerabilidade contra ti é uma dor que se torna insuportável porque, além de teres confiado nessa pessoa, ela usou algo de ti contra ti. Até que percebi que as pessoas só te podem magoar se tu deixares. Se eu aceitar quem sou, se me aceitar como sou, não podem usar tal tópico para me atingir. E aceitei-me.
Eu sinto e, ainda que muitas vezes desejasse não sentir, ainda bem que assim é. Não mudaria a minha sensibilidade porque ela define-me e define a maneira como interajo com as pessoas. Consigo sentir quando estão mal, sinto o que sentem ao ponto de o seu humor atingir o meu. Conecto-me com as pessoas mais intensamente porque me deixo ser vulnerável.

✿ coração partido.

by on junho 03, 2017
Pergunto-me quantas pessoas viram o título e acharam que eu ia falar sobre quão o meu coração está partido por causa do amor. Engraçado ...